A Lista Negra, Jennifer Brown

Tradução: Claudio Blanc

Valeria escreveu uma lista, nela estavam todas as coisas e pessoas de quem ela não gostava. Pessoas que a humilharam ou a fizeram se sentir mal. E então uma coisa boba de adolescente se transforma em uma tragédia quando Nick, namorado de Val, comete um massacre na escola e se guia pela lista para saber quem matar. Mesmo sendo atingida ao tentar proteger as pessoas, Valeria sobrevive ao atentado e, depois de um longo tempo de reclusão, é forçada a voltar para a escola e encarar todas as pessoas que a veem como a grande culpada.

Ler sobre bullying é algo que me incomoda profundamente e eu já sabia que não seria uma leitura muito divertida para mim nesse sentido (não que ler sobre um massacre escolar pudesse ter qualquer coisa de divertido) e realmente foi o que eu esperava. Valeria é uma jovem que está tentando lidar com a morte do garoto que ela amava e o crime que ele cometeu e destruiu a vida de vários estudantes. Acabando também com a vida de Val, quando e-mails trocados e a tão fatídica lista escrita por ela a transformou em uma cúmplice de seu namorado aos olhos da cidade. E, mesmo que esta ideia tenha sido descartada pela polícia, Val passa a ser tratada como uma bomba-relógio que pode a qualquer momento surtar e cometer algum crime ou acabar com a própria vida.

Fiquei com pensamentos conflitantes ao terminar a leitura. Ao meu ver, a autora queria tratar sobre bullying e mostrar todos os lados dos envolvidos em massacres escolares. É um tema complicado e por isso não sei se foi um livro que me agradou tanto, nem se alcançou o que se propunha (na minha percepção, porque pode ser que Jennifer não quisesse falar nada do que entendi). Por um lado, fiquei sensibilizada com todos, com as vítimas da tragédia e com Nick também. Mas principalmente com Valeria, o que é óbvio já que ela que narra a história e vemos de camarote seus sentimentos e como está lidando com as mudanças em sua vida. A lista negra não é um livro com um plot super elaborado ou personagens com profundidade maior do que a de dois dedos, é uma história com um propósito, onde os personagens parecem existir apenas para um papel, o que funciona para o livro, mas poderia ter sido bem melhor. Tudo gira em torno de Val voltando para a sua vida “normal”, tentando lidar com o luto e com a dúvida de que se devia ou não guardar os bons sentimentos por Nick, além de aprender a conviver com a nova forma que a sociedade, família e amigos a veem.

A protagonista sofre o livro todo, seja com os fatos do presente, seja com os fatos do passado. Até seu pai passa a tratá-la de forma diferente depois do que aconteceu. Ela só pode conversar com seu psicólogo e desenhar o que está sentindo, já que mais ninguém realmente a escuta ou pensa que ela quer continuar vivendo. Fiquei com uma sensação bem ruim de que, se você sofre bullying, você que precisa lidar com seus problemas e ninguém realmente vai tomar ações reais para fazer com que isso acabe, além de tentar remediar o que aconteceu. Mas depois da tragédia, não tem o que fazer, não é mesmo?

A escola toma péssimas decisões para lidar com todo o ocorrido e Val praticamente tem que levar tudo nas costas, sejam as mortes, seja o bullying que sofreu, seja o luto de todo mundo que ficou. Por mais que a história queira mostrar um lado mais positivo, que fale sobre como sobreviver à violência escolar, para mim ficou todo o peso sobre a protagonista, como se uma adolescente fosse responsável por todos os males da escola. Outras personagens mostram certo remorso pelo que fizeram também, mas os atos deles nunca realmente são pesados quanto os de Val e Nick. E no fim o que ficou para mim foi essa ideia de que só começaram a falar sobre o bullying por conta do massacre, mas não estavam querendo evitar o bullying em si, mas sim outras mortes.

De modo geral, foi uma leitura ok. Não sei se é o tipo de livro que eu indicaria por conta da temática, mas pode ser que sirva melhor para outros leitores do que serviu para mim.